sábado, 23 de outubro de 2010

Ela me falava sobre o tempo. 
O tempo perdido, o não aproveitado. Tinha fixação pelo tempo.

Porém de uma maneira rara. Porque lhe afligiam certos pensamentos, fazer certas considerações. Entretanto, sempre acreditava que ainda não era o momento... que ainda não havia chegado o tempo da colheita.

Aquele discurso sempre me irritava. Ao extremo, por vezes. E eu ia embora. Saía de perto, queria machucá-la. E conseguia.

E ela dizia que tudo ao seu tempo... 

Que eu compreenderia. Que eu saberia o que fazer. E, para mim, tais conversas e tais profecias era sim, uma perda de tempo.

E tudo que eu considerava era o que aconteceria dali a dez anos. Como sairia da grande confusão, como o mundo teria se modificado. Quando teria sido o verdadeiro tempo da colheita.... 

E sim, isso foi há muito tempo... Se naquela época eu queria considerar o que aconteceria dali a dez anos, imagine-me agora, olhando quinze anos atrás.... Como passou e eu não percebi? Ainda sou a mesma? Não, não sou. E ela me diz isso. Porque todos mudamos... com o tempo. Não quero dizer que isso seja ruim. Tampouco diz que é bom. Simplesmente que é um fato. E certos fatos temos que, simplesmente, aceitar.

E agora entendo que o tempo é algo que não se mensura verdadeiramente. Dizer daqui a uma hora, daqui dois dias, daqui um mês, quem sabe no ano que vem, não significa nada.  Acreditamos que seguimos uma linha, que estamos aproveitando da melhor maneira que podemos... Mas não. Quem se aproveita de nós é Cronos. E, de repente, não estamos mais onde pensávamos estar, porque algo aconteceu, a roda girou mais uma vez... E não pudemos fazer nada, absolutamente nada - porque certas escolhas fizemos de maneira inconsciente, mexemos as nossas peças antes do tempo (ele, sempre ele!) , sem considerar o que viria depois do imediato... E temos que lidar com isso. 

Porém também há aquilo que não nos cabe. O que não é de nossa alçada e o que não se move com o nosso relógio.

Era desse tempo perdido que ela tanto falava. 
Esse tempo que nunca tivemos.


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