(...) Pois de tudo fica um pouco.
Fica um pouco de teu queixo
no queixo de tua filha.
De teu áspero silêncio
um pouco ficou, um pouco
nos muros zangados,
nas folhas, mudas, que sobem.
Ficou um pouco de tudo
no pires de porcelana,
dragão partido, flor branca,
ficou um pouco
de ruga na vossa testa,
retrato.
(...) E de tudo fica um pouco.
Oh abre os vidros de loção
e abafa
o insuportável mau cheiro da memória.
(Resíduo) - Carlos Drummond de Andrade
... e este final de semana lá fui eu arrumar papéis e papéis... de novo. Porque eu sempre tenho algo incompleto, algo por fazer, algo por terminar e algo por entregar. O diferencial é que esse final de semana eu fui longe, eu fui onde pensei que jamais voltaria e reencontrei quem já fui - e me dei conta que muitas coisas mudam, podemos achar que mudamos, podemos querer desesperadamente que tenhamos mudado... Mas no final das contas somos os mesmos, somos as mesmas, somos o que escondemos e queremos o que queríamos quando tínhamos 15 anos... E fingimos, hoje em dia, que não mais queremos - afinal de contas, tanta experiência, tantos tombos, tantos aprendizados, cursos e work shops não nos ensinaram nada de útil? Depois de tanto tempo ainda nos contentamos com tão pouco?
... auto-engano é a moda do século XXI...
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